A Bondade de Deus

Um anônimo que se identificou apenas como “pe no chão (sic), postou o seguinte comentário:

deus de judiação,permite que pecamos para nos torturar nas mãos de seu filho satanas,se para deus somos todos iguais então porque existe tanta desigualdade social nesta merda de mundo imundo

se este reino não lhe pertence porque colocou o diabo vivendo com o ser humano?

feliz da pessoa que não tenha nascido.
nesta merda de livre arbitro

Antes de responder a este comentário de mais um “corajoso” anônimo, é bom fazer alguns comentários sobre como aceitar a existência de um Deus infinitamente bom em meio a tanto mal no mundo, seja ele físico (ou emocional) ou moral.

Na verdade, este não é nem um problema difícil de se resolver. Tanto que é uma das primeiras coisas que se aprende em Teodicéia, que é a teologia feita apenas com os dados que a razão alcança, ou seja, antes mesmo de entrarmos nas grandes questões que são respondidas pela Revelação. A Teodicéia é como que um preâmbulo da Teologia. Pode-se dizer vulgarmente que não é ainda “Teologia de verdade”. E mesmo assim, responde facilmente a questão Deus infinitamente bom X existência do mal. O problema é que o homem moderno é muito sentimentalóide, e o sentimentalismo distrai a mente do homem a ponto de ele não atinar nem mesmo para a solução dos problemas mais simples.

Primeiro, é de se notar que, diante de Deus, o homem não tem direito nenhum! Isso mesmo! Deus não tem obrigação nenhuma para conosco, seja de nos dar a vida, seja de conservá-la por muito tempo, seja de fazê-la próspera e tranqüila. Não temos direito a nada disso. Se isso acontece com alguns de nós (muitos de nós, na verdade), é por pura bondade de Deus. Pura misericórdia.

Segundo, coisas boas e coisas ruins acontecem com quem merece e com quem não merece. As razões para que Deus permita acontecer coisas ruins com quem acha que não merece são várias: ou a pessoa apenas acha que não merece, mas ainda tem penas temporais a serem purificadas; ou Deus está provando a fé daquela pessoa; ou está pondo à prova a caridade daqueles que tomam conhecimento do mal sofrido por essa pessoa. De qualquer modo, um bem será tirado do mal que esta pessoa está sofrendo. A sabedoria é a virtude que ajuda a enxergar este panorama mais amplo e, por isso, quando alguém se queixa muito de seus problemas isto é um sinal de pouca sabedoria.

Respondendo, então, ao nosso anônimo revoltadinho:

  • Não chame Deus de “deus de judiação”. Isto é blasfêmia, e blasfêmia é um pecado gravíssimo. Se Deus não merece nem nossos pecados menos graves, que dirá os mais graves! Não se jogue voluntariamente nesta teia de condenação e pena, que é só você que sai perdendo com isso…
  • Deus não tortura ninguém e nem quer diretamente o que satanás faz de mal a nós. Só permite. Pelas razões explicadas acima.
  • Existem vários tipos de igualdade. Todos somos iguais no sentido que todos temos a mesma natureza humana. E todos os homens precisam da salvação de sua alma. Neste sentido, Deus dá graças suficientes para todos os homens. Agora, o fato de todos serem humanos não implica em todos serem ricos ou felizes. Deus ama a todas as suas criaturas. Mas não ama a todas do mesmo modo. Se ele diferenciou tanto suas criaturas mais inferiores, como o leão e a corça, que dirá suas criaturas de nível mais superior. Até mesmo entre seus apóstolos teve um que ele amou mais! A desigualdade é um bem em si mesma, pois o bem é diferente do mal e os dois são diferentes de um estado neutro. Sem a desigualdade, tudo seria igual e nada seria efetivamente bom.
  • Há alguns anos atrás eu também pensava que o livre arbítrio era um problema. Mas com o tempo eu percebi que isso era apenas resultado de um raciocínio débil. Quando se reflete racionalmente sobre o problema do livre arbítrio se percebe coisas interessantes. Sem o livre arbítrio não existiria o amor. Sem o livre arbítrio não existiriam méritos. Sem o livre arbítrio não existe alma humana. E sem o livre arbítrio não existe semelhança com Deus. Remover o livre arbítrio é remover isto tudo. É um preço muito alto a se pagar pelo benefício aparente da inexistência do pecado daqueles que causam as injustiças entre os homens.

Portanto, caríssimos, não há dúvidas de que Deus é bom e de que tanto o livre arbítrio quanto a desigualdade sejam bens em si mesmos.  O que há é a arrogância do homem moderno acostumado com bobagens como “direitos dos animais”, “direitos dos homossexuais”, etc., a ponto de achar que o homem tem algum direito de ser bajulado por Deus.